domingo, 31 de outubro de 2010

À mercê do acaso?

Quando as portas se abriram, ri discretamente de uma velhinha que conversava com a funcionária. Depois percebi que estava chorando, e tive remorso. Entrei, e durante aqueles minutos pensei que talvez ela estivesse perdendo alguém muito querido. Quando as portas se abriram novamente no segundo andar, o enfermeiro empurrou minha cadeira em direção ao corredor das internações. Havia camas de doente do lado de fora dos quartos, e uma delas, uma moça ocupava. Ela estava de costas para mim, de modo que eu só enxergava o topo de sua cabeça, que descansava sobre o travesseiro, e seu braço, apoiado para fora da cama, espetado por um caninho de soro. Estimei a sua idade, depois se era casada ou solteira, se tinha irmãos e pais, e há quanto tempo estaria internada. Mirei o corredor inteiro, e pensei nos outros pacientes que deviam estar dentro dos quartos: talvez alguns deles estivessem hospitalizados há muito tempo, ou mesmo nem sairiam mais de lá. Minha mãe me perguntou se ainda doía meu músculo, e eu, segurando uma lágrima, disse que sentada eu não sentia nada. Quando o enfermeiro voltou para me levar para o raio-X, admirei-o muito. Admirei aquela calma que ele trazia aos diversos pacientes, aquela alegria e tranqüilidade. Como alguém que encontra vidas tão difíceis, ou até mesmo o limite entre a vida e a morte, consegue isso? Pensei se não seria esse mesmo o motivo daquela calma... Talvez alguém que se defronte com questões tão sérias, não se deixe levar por problemas pequenos. Percebi também que se eu não tivesse me machucado eu nunca seria obrigada a pensar naquelas coisas, logo, que nada deve acontecer por acaso. Acabei chorando, e não foi pela minha dor.