O vapor que saía com o ar de suas narinas embaçava, a cada expiração, o vidro do espelho, tão próximo estava seu rosto dele. Não piscava. No quarto fechado, sozinha, ali de pé, ainda podia ouvir as vozes que falaram dentro dela durante todo o dia. Lembrava-se de vezes em que lhe disseram que era muito querida, admirada, e até mesmo muito bonita. Sabia que não era mentira, talvez um exagero, mas realmente tinha vários amigos, e seus cachos ruivos contrastavam-se com os delineados olhos castanhos, ou mel... Não, castanhos. Mas naquele momento, não se importava em decidir-se entre mel ou castanho, não olhava para seus olhos, olhava através deles, o que só ela podia enxergar, o que só ela conhecia. Quando ficava triste, seu olhar pensativo e calado avisava logo quem estava à sua volta, porém era difícil adivinhar suas razões, o que aquelas cores não conseguiam exprimir. Bem sabia que seu rosto delicado e seus traços bem definidos sempre lhe serviriam de escudo, de esconderijo. Mas sabia ainda melhor, que não podia esconder de si própria suas inseguranças, as quais os outros não veriam naqueles olhos, nesses que agora se enchiam com lágrimas transparentes.
sábado, 18 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
"A alma e a matéria"
"Procuro nas coisas vagas
Ciência!
Eu movo dezenas de músculos
Para sorrir...
Nos poros a contrair,
Nas pétalas do jasmim,
Com a brisa que vem roçar
Da outra margem do mar...
Procuro na paisagem
Cadência!
Os átomos coreografam
A grama do chão...
Na pele braile para ler
Na superfície de mim,
Milímetros de prazer,
Quilômetros de paixão...
Vem pra esse mundo,
Deus quer nascer.
Há algo invisível e encantado
Entre eu e você.
E a alma aproveita para ser
A matéria e viver..."
Marisa Monte
terça-feira, 9 de novembro de 2010
"Pra você guardei o amor"
“Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar.
Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
domingo, 31 de outubro de 2010
À mercê do acaso?
Quando as portas se abriram, ri discretamente de uma velhinha que conversava com a funcionária. Depois percebi que estava chorando, e tive remorso. Entrei, e durante aqueles minutos pensei que talvez ela estivesse perdendo alguém muito querido. Quando as portas se abriram novamente no segundo andar, o enfermeiro empurrou minha cadeira em direção ao corredor das internações. Havia camas de doente do lado de fora dos quartos, e uma delas, uma moça ocupava. Ela estava de costas para mim, de modo que eu só enxergava o topo de sua cabeça, que descansava sobre o travesseiro, e seu braço, apoiado para fora da cama, espetado por um caninho de soro. Estimei a sua idade, depois se era casada ou solteira, se tinha irmãos e pais, e há quanto tempo estaria internada. Mirei o corredor inteiro, e pensei nos outros pacientes que deviam estar dentro dos quartos: talvez alguns deles estivessem hospitalizados há muito tempo, ou mesmo nem sairiam mais de lá. Minha mãe me perguntou se ainda doía meu músculo, e eu, segurando uma lágrima, disse que sentada eu não sentia nada. Quando o enfermeiro voltou para me levar para o raio-X, admirei-o muito. Admirei aquela calma que ele trazia aos diversos pacientes, aquela alegria e tranqüilidade. Como alguém que encontra vidas tão difíceis, ou até mesmo o limite entre a vida e a morte, consegue isso? Pensei se não seria esse mesmo o motivo daquela calma... Talvez alguém que se defronte com questões tão sérias, não se deixe levar por problemas pequenos. Percebi também que se eu não tivesse me machucado eu nunca seria obrigada a pensar naquelas coisas, logo, que nada deve acontecer por acaso. Acabei chorando, e não foi pela minha dor.
sábado, 25 de setembro de 2010
Claros olhos escuros
Eram olhos profundos,
Os quais quiçá refletissem
O quão profundos
Eram os olhares meus.
Aqueles que vislumbravam
Confusos sentimentos,
Que confusos deixavam de ser
Perante o entender do vislumbre seu.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Que era fácil, isso ninguém me disse
O ser humano sempre me impressionou muito. Talvez não bem o ser humano, biologicamente falando, mas seus comportamentos. Nas últimas semanas, tudo tem sido motivo pra eu notá-lo cada vez mais. E quando muitas idéias se juntam, é melhor eu colocá-las logo pra fora, porque eu não aguento, não.
Os problemas sociais, a pobreza, o preconceito, pra mim, muitas vezes, são arroz do mesmo saco, porque eles existem graças à falta de humildade. Se os EUA e as outras grandes nações doassem dinheiro para a África, não haveria mais fome lá, e talvez esse exemplo acabasse com a fome no mundo todo. Mas é claro que esses governos não estão tão preocupados com uma pobreza que está tão longe deles, assim como não nos afeta tanto a pobreza que está tão perto. E é por essas e por outras que o comunismo não deu e nunca dará certo, penso eu. Toda pessoa tem seu lado corrupto. É claro que uns mais do que outros, e é claro que todos têm seus bons momentos de caráter. Mas o que flui no mundo são as práticas capitalistas, que pregam que uma pessoa precisa pisar em outra para se elevar. E é por isso que eu não estudaria economia, porque eu ficaria ainda mais frustrada se estudasse isso. Mas é sobre a humildade que eu quero falar.
Eu não queria perder tanto tempo pensando em coisas tão utópicas, como em acabar com a fome no mundo, ou me focando nos problemas sociais, e nos modelos ideológicos. O que mais me incomoda é a realidade ao meu redor... pessoas, fatos, e eu mesma. Eu acho que guardar os próprios méritos para si, e se esforçar para fazer as coisas pra você, sem pisar nos outros, são grandes virtudes. Assim como ser caridoso, e se preocupar com os outros, também são. Entretanto, isso todo mundo sabe, ou pelo menos finge que entende bem. Mas eu não entendo tão bem assim. Se eu entendesse, eu não faria nada diferente disso, porém é muito difícil. E é quando eu me esqueço da razão pela qual eu vivo, que esses erros ocorrem. Muitas vezes, os motivos são as influências e o meio, mas na maioria, ocorrem por descuido. E quando o orgulho prevalece, não só comigo, então, pessoas se rotulam, competem, e a sociedade se corrompe cada vez mais. O que fazer? O que fazer quando todo o orgulho se torna um nada? O que fazer quando eu me arrependo dele?
Eu desejo que a humildade brote todos os dias em mim, e que junto dela, a felicidade. E que essa luta de todos os dias continue, porque pelo menos sei que estou viva.
“Dame ojos grandes para ver
y corazón para entender
que en lo pequeño está el Misterio.
Y que los límites no son
reflejo fiel del corazón
porque éste late em el deseo.
Dame ojos grandes
para ver el corazón,
y corazón para amar lo pequeño.”
Claudia Alvarez
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Viver
"É bonito viver,
porque viver
é começar sempre
a cada instante."
terça-feira, 27 de julho de 2010
"Há Tempos"
Tem ao certo a medida da maldade.
E há tempos, são os jovens que adoecem.
Há tempos, o encanto está ausente.
Há ferrugem nos sorrisos.
E só o acaso estende os braços
A quem procura abrigo e proteção.
Meu amor,
Disciplina é liberdade.
Compaixão é fortaleza.
Ter bondade é ter coragem."
sábado, 17 de julho de 2010
Será que penso demais?
Pra quem diz que me conhece, já vou avisando: se engana! Porque, agora, nem eu tenho tanta certeza sobre mim. As horas que eu gastei, mergulhada em pensamentos, foram prova do meu interesse em me entender e me conhecer. Não foram cômodas, mas me arrepender seria tirar delas a importância que tiveram.
Eu me perdia na saudade, no desejo, na ansiedade. Esses sentimentos eram traduzidos em sonhos, idealizações e, de repente, quebrados na realidade daqueles momentos, que era boa, mas eu não a enxergava... Tudo me irritava e tudo era motivo para eu querer mergulhar de novo no meu mundo paralelo da ansiedade, num círculo vicioso.
Quando compreendi esse esquema de ilusões e desilusões já era tarde, o tempo não me esperara. Um problema real foi necessário para me sacudir e me fazer lutar contra meus pensamentos. Foi quase uma guerra, da qual ainda carrego feridas abertas. Por sorte, fui obrigada a me recordar do que me traz a plena felicidade e o confortável consolo, tão preciso.
Meu coração descansou, porém sei que muitos conflitos ainda virão, para que eu não me esqueça da minha procura.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Boa noite
Respirou aliviada, e dormiu um sono tranqüilo.
sábado, 19 de junho de 2010
Um dia triste
Como alguém pode me dizer que se comove comigo? Eu não consigo controlar nem a minha própria vida...
“Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide”
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Criança
Outro dia, eu me lembrava de como eu gostava de tomar refrigerante! Na minha casa, a gente só tomava quando vinha visita, então, quando vinha, eu já ficava ansiosa pra hora da janta, pra tomar aquele guaraná, tão valioso. Que criança não gosta de refrigerante, ou de Mc Donald’s? Do Natal, então, nem se fala... Eu acordava e corria pra sala pra abrir o meu presente! Eu não escolhia o presente, era surpresa, mas qualquer brinquedo deixa uma criança bem contente. No dia das mães, o frio na barriga do dia da apresentação pra elas, e da entrega do cartão e dos presentes feitos por nós, na aula de artes. E a apresentação podia ficar um lixo, que todas as mães choravam, do mesmo jeito. Que saudades!
Quando eu vejo criança brincar, eu fico imaginando o que passa pelas cabecinhas... Quanta criatividade! Só se preocupam em brincar, mas são sérias nas brincadeiras, brigam pelos seus brinquedos, pelos seus direitos, pela atenção... Ao mesmo tempo, não percebem o mal, ou a malícia dos adultos... São seres inocentes, puros.
“Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus” (Lucas 18:16)
terça-feira, 1 de junho de 2010
Se ele não vier, eu virei
Ouviu batidas na porta, e logo encarou seu melhor amigo, que trouxera flores para a nova mamãe. Sentia o conforto daquele abraço, de alguém que nunca quebrara a sua palavra, que nunca lhe faltara nos momentos mais difíceis, e ali estava.
– Thiago, ele não veio, o parto foi horrível. Eu estava sozinha – e mais lágrimas molharam seus cabelos e sua camisola.
– O que eu vou fazer agora? – O amigo alisava os cachos amassados. – Se ele não vier, eu virei.
Uma semana se passara, desde o nascimento de sua filha. Do seu quarto foram tiradas a penteadeira e a escrivaninha, que deram lugar ao berço e às fraldas. Todos os dias, Cláudia esperava pela chegada do melhor amigo, que cuidava do neném, enquanto ela se arrumava para dormir. Não terminara a faculdade, não tinha emprego, não gostava de pedir ajuda para seus pais. Sua filha não teria uma família completa.
Uma tarde, enquanto sua filha dormia, Cláudia tirava um tempo para si, arrumando seu armário. Mexia em uma gaveta de recordações, quando abriu a carta que recebera de Thiago, no colégio. Thiago a surpreendera em uma festa, quando se declarou, por carta, para Cláudia. Mas ela nunca o correspondera... Agora, estranhamente, sentia saudades daquela noite... sentia saudades de Thiago. Uma saudade que se misturava com ternura, com desejo, com amor.
sábado, 29 de maio de 2010
Eu, irônico?
Quando estou no colégio, muitas vezes quero não estar. Crise de adolescente? Não! Fico pensando como tudo seria bem diferente se a gente assistisse às aulas, sentados, despidos, de baixo de uma árvore. E é claro, sem sentirmos que estamos sendo secados pelos nossos colegas de classe, por que as vestimentas seriam completamente anormais, como numa tribo indígena. Os seios femininos seriam apenas para alimentar seus descendentes, e ninguém usaria sutians super sexys, ou decotes, por que o busto já estaria à mostra. Não quero escrever uma utopia de um mundo santo e inocente, mas os homens não se excitariam mais com roupas provocantes que deixam à mostra só o suficiente para que suas mentes maliciosas e humanas imaginem o resto, por que o resto já estaria ali, não perderiam tempo nas ilusões. A sensualidade é natural, com roupas ou sem roupas.
Me incomoda profundamente o fato de as pessoas sempre quererem mudar sua aparência, e, principalmente, me incomoda o fato de eu me incomodar tanto com as minhas espinhas, falo sério. “O meu cabelo é isso, é aquilo, estou gordo, vou colocar silicone...” já cansei de ouvir essas frases, não concordo com as mudanças que os outros querem fazer, quanta futilidade! Mas continuo esperando ansiosamente o dia da minha dermatologista chegar. Por quê as pessoas gastam tanto com as melhores roupas e adereços, se com isso tudo elas podem provar que não são elas mesmas? Mas, se eu tivesse dinheiro, eu não faria a mesma coisa? O dinheiro não me tentaria o suficiente pra eu seguir esse costume ridículo? Espero que, se algum dia eu tiver tanto dinheiro, eu não seja uma pessoa fraca. Me sinto feliz quando me satisfaço com qualquer coisa realmente verdadeira, quando aprendo coisas novas, quando canto, quando sei que faço alguém feliz. Será que é isso que todo mundo sente quando segue todas as normas da sociedade? Eu tenho minhas dúvidas.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Cansada dos textos acadêmicos
No colégio, muitas vezes, é assim: recebemos um tema qualquer, fingimos ter uma opinião e nos esforçamos para redigir um texto conciso e acadêmico; e vai ser assim no vestibular, no trabalho, na vida toda. Eu, particularmente, me considero sortuda por achar minha língua bonita, e normalmente ter o que argumentar nas redações que me são impostas. Mas o prazer de escrever me veio, pela primeira vez, quando eu tinha o que dizer e ninguém pra me escutar, quando eu me senti torturada pelos pensamentos, e tinha que organizá-los de alguma forma. Bom, aí aconteceu: um texto, sem forma, sem métrica, sem as frescuras de um texto acadêmico. E de agora em diante, vai ser assim: eu terei o que dizer, se você quiser me ouvir, fique à vontade.