sábado, 18 de dezembro de 2010

Lágrima de mel

O vapor que saía com o ar de suas narinas embaçava, a cada expiração, o vidro do espelho, tão próximo estava seu rosto dele. Não piscava. No quarto fechado, sozinha, ali de pé, ainda podia ouvir as vozes que falaram dentro dela durante todo o dia. Lembrava-se de vezes em que lhe disseram que era muito querida, admirada, e até mesmo muito bonita. Sabia que não era mentira, talvez um exagero, mas realmente tinha vários amigos, e seus cachos ruivos contrastavam-se com os delineados olhos castanhos, ou mel... Não, castanhos. Mas naquele momento, não se importava em decidir-se entre mel ou castanho, não olhava para seus olhos, olhava através deles, o que só ela podia enxergar, o que só ela conhecia. Quando ficava triste, seu olhar pensativo e calado avisava logo quem estava à sua volta, porém era difícil adivinhar suas razões, o que aquelas cores não conseguiam exprimir. Bem sabia que seu rosto delicado e seus traços bem definidos sempre lhe serviriam de escudo, de esconderijo. Mas sabia ainda melhor, que não podia esconder de si própria suas inseguranças, as quais os outros não veriam naqueles olhos, nesses que agora se enchiam com lágrimas transparentes.

sábado, 11 de dezembro de 2010

"A alma e a matéria"

"Procuro nas coisas vagas
Ciência!
Eu movo dezenas de músculos
Para sorrir...

Nos poros a contrair,
Nas pétalas do jasmim,
Com a brisa que vem roçar
Da outra margem do mar...

Procuro na paisagem
Cadência!
Os átomos coreografam
A grama do chão...

Na pele braile para ler
Na superfície de mim,
Milímetros de prazer,
Quilômetros de paixão...

Vem pra esse mundo,
Deus quer nascer.
Há algo invisível e encantado
Entre eu e você.
E a alma aproveita para ser
A matéria e viver..."

Marisa Monte