quarta-feira, 28 de março de 2012

Anatomia

Depois de algumas idas ao laboratório de anatomia, tenho me surpreendido muitas vezes em pensamentos céticos. Para que eu construo, com tanto trabalho, uma vida confortável para um corpo que vai apodrecer? Como eu posso pensar com tranqüilidade que meus tão verdadeiros amores terão fim? Por que vou ajudar pessoas a viver melhor se elas vão morrer também? Espelho. E eu sinto que eu não posso ser à toa. Meus olhos. Eles têm uma tarefa. Minha boca. Eu não me fiz, não decidi ter nascido, não tenho lembranças de antes de nascer, não sei onde estava. Eu não estava. E agora estou. Ainda estou. Podia já ter apodrecido, mas estou. Vejo beleza em mim, na minha vontade de viver, no meu rosto. Não pode ser só isso! Ninguém ia decidir viver se fosse só isso! Mas as pessoas querem viver, eu quero viver, muito. Não é justo que eu seja à toa, definitivamente, não sou. Não decidi ser, não decidi continuar sendo e não sei até quando serei. Pertenço.