quarta-feira, 22 de junho de 2011

Eros, hoje

De acordo com Bento XVI, que baseou as colocações acerca do amor cristão de sua “Carta encíclica Deus Caritas Est” nas definições feitas por Santo Agostinho, o amor entre homem e mulher, no qual concorrem indivisivelmente corpo e alma, abre uma promessa de felicidade que parece irresistível e ofusca os demais tipos de amor, como da pátria, à profissão, entre amigos, ao trabalho, entre pais e filhos, entre irmãos e familiares, ao próximo e mesmo a Deus. A este amor, que não nasce da inteligência e da vontade, mas de certa forma impõe-se ao ser humano, a Grécia antiga deu o nome de Eros.

Em sua canção “A Dança”, Renato Russo critica ferozmente vários costumes sociais:

Você não tem idéias
Pra acompanhar a moda
Tratando as meninas
Como se fossem lixo
Ou então espécie rara
Só a você pertence
Ou então espécie rara
Que você não respeita
Ou então espécie rara
Que é só um objeto
Pra usar e jogar fora
Depois de ter prazer.

Entre eles, o prazer carnal por si só e a banalização do sexo e do ser humano, que acontece como conseqüência. A música retrata o Eros em sua forma mais instintiva e desumana, por incluir apenas a matéria e deixar de lado a espiritualidade. Esta contorção, que ganha cada vez mais força nos dias atuais, mostra o prazer de um instante, porém não coloca em evidência o vértice da existência e a beatitude para que tende todo o nosso ser e sentido do amor, deixando um vazio, como se vê nos seguintes versos, da mesma composição:

Você é tão moderno
Se acha tão moderno
Mas é igual a seus pais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz.

(...)

Você é tão esperto
Você está tão certo
Que você nunca vai errar
Mas a vida deixa marcas
Tenha cuidado
Se um dia você dançar.

Por isso, sem purificação e disciplina, o Eros inebriante e descontrolado leva à degradação do homem e à perda da compreensão do amor. Torna-se mercadoria, uma parte que o homem não vê mais como âmbito de sua liberdade, porém como algo apenas agradável e inócuo.